A Academia
Municipalista de Letras de Minas Gerais,
Casa de São Francisco de Assis, empossou no seu quadro de associados, no dia 04
de agosto de 2018,
Maria Inês de Moraes Marreco,
professora, doutora em Literaturas de Língua
Portuguesa, escritora, ensaísta e crítica literária, idealizadora e gestora do
Centro Cultural IDEA, representante do Município de Vitória/ES, com assento na
Cadeira nº 333, Seção X – Erudição, sendo seu Patrono Padre José de Anchieta.
Foi recebida e saudada pela Acadêmica Elisabeth Fernandes Rennó de Castro Santos,
representante do Município de Carmo de Minas/MG.
A sessão solene de posse com tradicional cerimonial foi,
nesta data, conduzida pela Acadêmica Maria Inês Chaves de Andrade. À mesa de
honra tomaram assento o presidente da Amulmig César Pereira Vanucci, a
acadêmica Marilene
Guzella Martins Lemos, presidente da Arcádia de Minas Gerais
e das Amigas da Cultura, o presidente emérito Luiz Carlos Abritta,
também presidente da Academia de Letras do Ministério Público de Minas Gerais, a
presidente do Conselho Superior e presidente emérita da Amulmig Elizabeth Rennó, atual presidente da Academia Mineira de Letras,
recipiendária da neoacadêmica Maria
Inês de Moraes Marreco que foi conduzida à mesa pelo
acadêmico João Quintino Silva, desembargador e pelas acadêmicas Maria de
Lourdes Rabello Villares e Angela Togeiro. A solenidade contou com os discursos
de Elizabeth Rennó e da nova acadêmica apresentando seu município e o
panegírico ao seu patrono, transcritos a seguir. Houve ainda fala da
neoacadêmica Raquel Virgínia Rocha Vilela sobre a empossanda, a tradicional Chamada
Acadêmica para saudar a nova acadêmica, seu Município e Patrono. O encerramento
se deu com discurso do Presidente Vanucci.
Saudação
a Maria Inês Marreco
Posse
na Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais
Elizabeth
Rennó
Honrosa tarefa esta a de saudar a escritora e professora
Maria Inês Marreco em sua entrada na
Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais.
Honrosa e difícil quando se aquilata a grandeza literária
e humana que a ilumina.
Nossa Academia sente-se prestigiada com esta posse.
Maria Inês é expoente de um viver consciente literário e
laborioso coroado pela capacidade de ação e desempenho das funções
significativas que exerce.
O escritor, homem ou mulher, dialoga com a palavra e com
a criatividade silenciosa que o rodeia, sob signos e símbolos da imaginação.
Daí a importância do silêncio na criação de uma obra de
arte. Ideias afloram do mais íntimo do ser e se concretizam pela Palavra,
concretude que abrange o todo sensitivo.
Maria Inês é a artífice da Palavra plena, estudada,
burilada, expressividade do seu fazer literário denso e profundo. Ela escuta o silêncio. E ele a
contempla com sussurros de encantamento.
Com a Palavra utilizada em sua pureza e correção, as
Academias são sustentadas nas suas realizações, na ascensão de uma força e de
um patamar que as caracterizam, coroadas pelas vozes do construir criativo. Como
visão mágica do mundo a Palavra reúne o encantamento verbal e imagético, em
busca da plenitude.
O
ingresso de um novo membro ao quadro acadêmico, além de revigorar a entidade
pelo conhecimento que lhe é trazido, representa a esperança de continuidade
para o labor literário, encarnação da imortalidade, na preservação de sua
memória histórica.
O
papel de uma Academia de Letras é conquistar e propiciar
a visão global da vida
adquirida por suas promoções culturais, palestras, seminários, publicações,
encimado pela dignidade humana, acima da vulgaridade e da repetição.
Pela visão crítica e pela reflexão persegue-se um pensar
mais profundo.
Este foi o pensamento de Alfredo Marques Viana de Góes ao
fundar, junto a um grupo de intelectuais mineiros, a Academia Municipalista de
Letras há cinquenta e cinco anos, marco primeiro de um mister literário, na
amplidão que se compõe de vários municípios de Minas Gerais, de estados
brasileiros e do exterior.
Este
é o objetivo da nossa Municipalista: seguir as pegadas de seu fundador nos
caminhos da Literatura, do Humanismo, da Cordialidade, fazendo de nossa
entidade templo de luz e trabalho.
Nossa
Neoacadêmica Maria Inês Marreco possui belo e amplo currículo, cujo conteúdo
traduz capacidade e sabedoria.
Mestre
em Literaturas de Língua Portuguesa, 2005, PUC-Minas. Dissertação: A errância infatigável da palavra na obra
de Nélida Piñon;
Doutorado
em Literaturas de Língua Portuguesa, 2011, PUC-Minas. Tese: Visões caleidoscópicas da memória em Lygia
Fagundes Telles e Nélida Piñon;
Doutorado
em Literatura Brasileira, 2014, UFMG. Tese: Para
aplacar uma grande saudade: estudo da obra memorialística de Maria Helena
Cardoso.
Professora no ensino médio, fundamental,
graduação e pós-graduação. Atua nas áreas de Literatura Brasileira e Literatura
Comparada.
Pesquisadora da UFMG, pertence ao Grupo de Pesquisa
Letras de Minas, desde 2006.
Fundadora e presidente da IDEA Casa de Cultura em Belo
Horizonte, presidente e revisora da editora IDEA.
A criação e o funcionamento de IDEA ampliaram o ambiente
cultural de Belo Horizonte, com realizações e apresentações de grande valor
literário e artístico.
Maria Inês possui vários livros publicados; grande é o
número de Antologias de que participa e organiza com trabalhos de grande valia.
Com este rico cabedal, organizou e apresentou trabalhos,
coordenou mesas e proferiu palestras em seminários, congressos nacionais e
internacionais em vários eventos ligados à literatura.
Participou de Bancas de Mestrado e Doutorado na
Universidade Federal de Minas Gerais, na Pontifícia Universidade Católica de
Minas Gerais e na Universidade Estadual de São Paulo.
Presidente Emérita da Academia Feminina Mineira de
Letras,
Sócia
efetiva da Arcádia de Minas Gerais e do Instituto Histórico e Geográfico de
Minas Gerais.
Livros Publicados;
A
errância infatigável da palavra, 2007;
Linhas
Cruzadas: literatura, arte, gênero e etnicidade, 2011;
Escritoras
de ontem e de hoje- antologia, 2012;
Visões
caleidoscópicas da memória, 2013;
Para
aplacar uma grande saudade, 2015
Mulheres
desdobráveis, 2016; ( org.)
Memorialismo
e resistência: estudos sobre Carolina Maria de Jesus, 2016; (org.)
As
matrizes do fabulário Ibero-Americano, 2016; (org.)
Pelo conjunto de sua obra e suas atividades literárias,
recebeu entre outras, as
Medalha da Inconfidência, Governo do Estado de Minas Gerais;
Medalha das Gerais- Medalha
Maria da Cruz, Governo do Estado de
Minas Gerais;
Medalha Israel Pinheiro,
Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais;
Medalha João Pinheiro da
Silva, Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais;
Medalha Claudio Manoel da
Costa, Arcádia de Minas Gerais;
Medalha de Ouro da Turma do
Curso de Letras, PUC Minas;
Distinções e Prêmios:
Honra ao Mérito, Rotary Club
de Belo Horizonte;
Presidente Emérita da
Academia Feminina Mineira de Letras;
Destaque Acadêmico do Curso
de Letras, PUC Minas;
Honra ao Mérito-Ano
Brasil-Portugal, Agora, Clube Brasileiro da Língua Portuguesa;
1º Prêmio: Concurso Euclides
da Cunha, Academia Carioca de Letras;
Menção Honrosa no Concurso
Ciclo Machadiano, Academia Carioca de Letras.
Maria Inês Moraes Marreco, a convite de Nélida Piñon,
escritora consagrada, ex-Presidente da Academia Brasileira de Letras, exerceu o
magistério e suas extensões na Universidade Estadual de São Paulo.
Dedicando-se a este mister quase divino, o exercício do
ensinar e o repasse do conhecimento, volta-se o mestre para incrementar a
promoção humana, orientando o discípulo para vivência consciente e produtiva.
O Professor, bem como o escritor, domina a plenitude da
Palavra, podendo mudar as etapas caóticas do comportamento, introduzindo, nas
lições que ministra, o incentivo para o aprimoramento espiritual, da formação
ética e responsável.
A educação, conforme Paulo Freire, só pode ser encarada como
um fazer humano. Este é o sentimento
humanístico que ascende à posição reflexiva e crítica, tanto do educador quanto
do educando.
Os verdadeiros educados, na acepção de
Cecília Meireles, mestre e poeta, são os
que sabem, os que creem, os que agindo conservam-se puros e belos exemplos, os
que não vergam, os que não mentem, os
que não temem.
A Palavra, mais que o ensinamento formal, pelo caráter de
arquipotência, dá origem ao ser integral e ao acontecer.
Que a nossa Palavra, instrumental primeiro do escritor e
do professor, esteja voltada para as exigências do corpo e do espírito, na
acepção tomista de que o ser é composto de corpo e alma.
A escritura deste
século é ainda a do fim do século passado, não tem começo, busca a intersecção
dos tempos: é o presente pela releitura, é sempre um recomeço e uma reprodução.
Em tempos tumultuados
como os que vivemos, a virtude, a educação dos espíritos, o cultivo das artes
são substituídos pela força indiferente à perda do sentimento do tempo.
Os novos tempos impõem o questionamento às ideias que
surgem desordenadamente na revolução dos costumes.
Esta
é a tarefa ingente que pesa sobre os ombros do educador: como oleiro, criar por
suas mãos, o indivíduo responsável, através do barro modelado pela Palavra.
As guerras, segundo as palavras de Spengler, citadas pela
Condessa de Campo Alegre em La secreta
guerra de los sexos (Madrid, 1948), representam para a mulher hora de
projeção, pela necessidade de exercer ação substitutiva do homem. O resultado é
expresso pela incorporação intelectual, cívica e econômica ao tecido social.
Jung considera: a
mulher do presente empreende uma formidável tarefa cultural, que é o começo de
uma nova época, em A mulher na Europa
( Realidad del alma).
Segundo Julián Marías, em A Mulher no século XX, tanto a mulher como o homem perguntam por si
mesmos. Não de maneira isolada, mas em referência conjunta, o elemento feminino
a par com o masculino. Sabia-se o que era ser mulher, com padrões exemplares e
leis subjugadoras.
Ainda com Spencer temos: O homem faz a história, a mulher é a história.
A maternidade produz
um sentimento profundo, unindo a mulher à terra; é frutífera, pelo mistério da
criação é como a árvore sujeita ao chamamento da Primavera.
Frobenius, em A Cultura como Ser Vivente, analisa a
forma matriarcal ligada a uma cultura telúrica e a patriarcal à tectônica.
Convencionou-se classificar o homem como ser objetivo, a
mulher, subjetiva.
Será este o critério para o século XXI que vivemos?
A mulher que escreve já não se refere a si mesma.
Incorpora-se ao universo masculino com ideias objetivas.
Em O segundo sexo,
livro revolucionário surgido em 1949, de autoria de Simone de Beauvoir, diz que
o eterno feminino era sinônimo de alma negra, consequente a uma situação de
inferioridade.
Assim, a mulher não era considerada pelo homem como um
ser autônomo, mas apenas um elemento do mundo masculino; ela era um Outro. Esta
ideia aparece nas consciências mais primitivas da humanidade.
Hoje, no entanto, apesar do apoio de ideias e conquistas
diversas, a mulher assume, timidamente, papel coletivo e participante no
próprio mundo feminino.
Há um processo de mudança,
livra-se ela de peias e epítetos, de lugar marcado na aventura maravilhosa de
se descobrir ser. Na sua voz própria,
no seu escrever independente, na sua transformação consoante com o mundo em
mutação, a mulher é.
Inicia sua escalada com valores de capacidade, construção
e dignidade. Um dos meios de que dispõe é a ação eficiente que se faz presença
nas empresas, nas artes, na ciência, na literatura.
A mulher escritora possui dupla função, a criação da
palavra e a criação de si própria. Encarna a Palavra, origem e formação da
Arte. Sua verdade está na expressividade
das coisas belas e faz fortificar o desejo de ir além, testemunho de ação e
propagação do valor humano.
Vencendo a dominação patriarcal da Idade Média, idade das
trevas, passando pelo Renascimento, alcançando o Império Romano, num crescendo
até a contemporaneidade, reconhecemos o valor pioneiro de escritoras de vários
estados brasileiros, ressaltando os versos de Marília de Dirceu e Bárbara Heliodora;
das primeiras mulheres formadas em Medicina no Brasil, Maria Augusta Generosa Estrela que
impossibilitada de fazer seus estudos
aqui, seguiu para os Estados Unidos. O Imperador Dom Pedro II concedeu-lhe uma
bolsa de estudos, a primeira doada a uma
mulher, gerando a possibilidade de sua
atuação no país; Mirtes Campos e Maria Augusta
Saraiva, formadas em Direito, em 1898, somente conseguiram seu reconhecimento
profissional em 1906; Francisca Senhorinha, em Campanha, sul de Minas, em 1873,
criou o jornal O Sexo Feminino, desbravando
horizontes para o tradicional papel da mulher.
Admira-se o gênio administrativo e diplomático de Theresa
May, primeira-ministra da Inglaterra; Rosaly Lopes, brasileira, gerente de
Ciência Planetária do Laboratório de Propulsão a Jato da NASA e primeira
editora-chefe da revista especializada Ícarus; Alamanda Kfouri Pereira, obstetra,
que, quebrando a hegemonia masculina de 107 anos na direção da Faculdade de Medicina
da UFMG, é sua vice-diretora; Sandra Regina Goulart Almeida ocupa o cargo de
reitora da UFMG, uma das mais importantes universidades do país, em 90 anos de
História.
Queremos lembrar a coragem e a determinação de uma
menina, a ativista paquistanesa Malala Yousafsai, vencedora do Prêmio Nobel de
2014, por sua luta em defesa da educação das meninas de seu país, quando contava
apenas 15 anos de idade, cuja atitude quase lhe custou a vida.
Kolinda Grobar-Kitarovic, a primeira mulher a exercer a
Presidência da Croácia, pequeno pais problemático, envolvido em guerras étnicas.
Comparecendo à Copa do Mundo, recentemente na Rússia, assistiu às partidas
eliminatórias de sua terra, pagando as passagens para este evento em voo
comercial, descontando de seu salário os dias em que deixou de trabalhar. Sua
presença incentivou o desempenho do time, chamando a atenção da imprensa
mundial.
Exemplos não nos faltam, através dos tempos, a mulher
rompendo as amarras de uma passividade que a encastelava, vai em busca de um
destino construtor.
Ao
imprimir sua marca na construção de um mundo novo, junto à modernidade em que
vive, frutifica o poder das ideias e da ética em seu trabalho diversificado.
Assim nos dias de hoje, no século XXI, destacam-se as
múltiplas funções em que militam as mulheres.
As obras literárias, poesia ou prosa, as que tratam de
economia ou ciências elaboradas pela pena feminina, representam escritoras que
tecem as palavras, sem a marca de uma diferenciação do estilo masculino. Já não
se diferenciam em sua escrita amena ou bravia.
Possuímos grandes nomes que enaltecem a Cultura,
presentes nas academias e instituições diversas, plêiades de mulheres dedicadas
ao estudo, às pesquisas, construindo o edifício alicerçado pela capacidade que
possuem.
Estes exemplos foram arrolados aleatoriamente entre
muitos que são característicos da mulher moderna, figuras femininas que se
destacam e se destacaram em vários setores fundamentais de uma nação.
As mulheres que não se profissionalizaram, em variadas
épocas, foram partícipes da sociedade humana, mães enfrentando dissidências,
humilhadas e oprimidas muitas vezes, como construtoras de uma nação.
Inseridas,
em sua condição mítica, a mulher coloca no seu verso ou na sua prosa, a
sementeira da Verdade, propiciando a colheita generosa, frutificada na ascensão
de seus filhos.
Esta Verdade adjacente a um poder criador passa a ser a
grande tarefa que pesa sobre os ombros da mulher escritora, principalmente a
que se filia a uma Academia de Letras.
As mulheres do terceiro milênio vivem momentos de
ascensão bem diferentes do ocorrido séculos atrás. Podem colocar em seus
escritos o que lhe dita a alma sem temer censuras ou repúdios.
Mulheres múltiplas, mães, esposas, esteio familiar,
conscientes do valor que lhes vem pela competência em sua missão educativa, literária,
humanitária, dignificam a essência feminina pela sabedoria, pela discrição,
pelo conhecimento e ânsia de perseverarem em ambiente favorecido pelo estudo e
pelo esforço de trabalho.
É disso
que precisamos, Mulheres fortes, pela dignidade e fortaleza, exemplos de fé e
de coragem no cumprimento sagrado dos deveres que coroam a sua vivência cristã.
Maria
Inês abrace esta sua carreira intelectual em plenitude e contínua progressão, certa
de que viveremos dias mais compensadores.
A humanidade tende a se cristianizar, esta é a nossa
esperança.
A
acolhida que lhe faz a Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais
representa a posse de um bem precioso, a presença que fará brilhar o nosso espaço.
Rejubilados com esta conquista, certamente estarão
Giovana, Juliana e Rosana, suas filhas, e Laura, Bruna, Felipe e Rafaello, seus
netos, junto a nós.
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